Quando fazer terapia?
Se a gente levar em conta a toxicidade da cultura capitalista ocidental, onde o tempo e o dinheiro tem entre si uma relação bastante complexa (no Brasil a gente ouve: tempo é dinheiro!), fica mais fácil entender porque nos distanciamos dos aspectos mais reflexivos: sejam eles emocionais, espirituais ou mesmo puramente filosóficos.
Para poder se ‘adaptar’ as exigências do meio (sociais/profissionais) muitas vezes temos que lutar contra as nossas dores mesmo sem conhecê-las. Estas dores podem ser saudades, a incerteza de sermos adequados a situação; ‘não bastante para …’; ‘não sou bom…’; a cobrança de ser a melhor mãe (como se fosse possível!); a melhor amiga; a melhor namorada (como se o fato de ser a namorada já não fosse o suficiente); e por ai vai. Estes sentimentos geralmente são relegados a segundo plano, pois não dá tempo de ficar ‘alimentando’ isto no dia-a-dia.
Estas dores e a necessidade de ‘resolvê-las’ não desaparecem simplesmente sendo reprimidas. Elas voltam na forma de stress; medo; ‘um nervoso que eu não sei bem o que é’; algumas pessoas descrevem isso como ‘um buraco na boca do estomago’; dificuldade de dormir; dor de cabeça…. etc.
Uma das coisas que dificulta a procura por ajuda é justamente estes sentimentos que não sendo reconhecidos provocam a errônea impressão de que ‘se eu preciso de ajuda não sou forte o suficiente e isso vai me causar ainda mais vergonha’.
Reconhecer e entender o que está acontecendo com nossas emoções normalmente é um processo que exige tempo e coragem e se torna muito difícil quando não temos alguém para servir de parâmetro. Imagine que você está mergulhado numa piscina e tem que descrever a paisagem ao redor dela. Isto se torna impossível, a menos que você consiga ‘tirar a cabeça da água’ e aí sim, olhar ao redor. A terapia se propõe a ser esta ‘escadinha’ que permite este olhar mais aberto e abrangente.
Portanto a gente não precisa esperar que aconteça alguma coisa pontual, dolorosa para fazer terapia. Nem mesmo ter um ataque de pânico para só então buscar ajuda. A paz que a gente precisa para ser feliz, não vai acontecer depois de todo o trabalho resolvido, de todas dores reprimidas e silenciadas. A paz que a gente precisa para ser feliz tem que ser conquistada aos poucos, através do autoconhecimento que ocorre durante toda a nossa trajetória de vida, trabalhando, sentindo saudades, tentando ser um pouquinho melhor…, mas principalmente se aceitando. Honrando quem somos verdadeiramente, mesmo que no nosso salário não seja o melhor e que a gente não ganhe o troféu de melhor mãe do mundo.